Por Bianca Ballesteros
Falar sobre saúde mental é, para mim, falar sobre vida. Ao longo da minha trajetória clínica, tenho acompanhado muitas pessoas que chegaram cansadas, sobrecarregadas, desconectadas de si mesmas. E, com o tempo, fomos redescobrindo juntas o valor do autocuidado — não como algo que se encaixa na agenda, mas como um compromisso diário com o próprio bem-estar.
Autocuidar-se é escutar o corpo, respeitar as emoções, reconhecer os limites e, principalmente, tratar-se com gentileza. Muitas vezes, confundimos autocuidado com algo supérfluo ou egoísta, mas ele é exatamente o contrário: é um gesto de responsabilidade afetiva consigo. Quando me cuido, posso estar mais inteira para a vida, para o outro e para as minhas escolhas.
A saúde mental precisa ser vista com a mesma importância que damos à saúde física. Quando ignoramos o que sentimos, o sofrimento se acumula — e ele encontra formas de se expressar, seja em sintomas como ansiedade, angústia, irritação ou até mesmo em dores no corpo. Buscar ajuda profissional é um passo corajoso e transformador, e sempre acolho esse movimento com muito respeito.
Gosto de lembrar aos meus pacientes que autocuidado não tem fórmula pronta. Às vezes ele está em uma pausa silenciosa, em uma boa noite de sono, em uma conversa que conforta ou até no simples ato de dizer “não” quando algo nos fere. O que importa é desenvolver uma escuta interna, um vínculo consigo mesmo que sustente as tempestades e celebre os dias de sol.
Cuidar da mente é um processo contínuo — não há atalhos. Mas há caminhos. E estar presente nesse percurso, como psicanalista e como mulher que também se transforma todos os dias, é parte do que me move. Que possamos todos, com delicadeza e coragem, fazer do autocuidado uma prática viva e sincera.

